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Foto do escritorHellen Albuquerque

Editorial de moda: Por uma vida melindrosa

Antes de tudo, dê o play!


Enquanto Duchamp levava privadas para o meio das grandes exposições de arte e Dali derretia relógios, as mulheres começavam a sair para dançar. Suas saias, antes tão pesadas e longas, subiam os comprimentos até quase os joelhos, dando um balanço ideal junto as franjas pregadas no tecido para dançar jazz ou charleston, que move as pernas de um lado para o outro em ritmo acelerado. Charles Chaplin e Clara Bow imperavam nas telas de cinema e Josephine Baker espantava a todos em suas apresentações de dança em que aparecia quase nua. Os anos eram loucos. E a tal loucura vinha das mulheres. Com a Primeira Guerra Mundial, o sexo feminino havia ganhado mais espaço, por pura necessidade. Precisava-se de mão de obra e com os homens na guerra, esta ficava escassa. O mercado então se volta para as damas. Em 1921, oito milhões de mulheres já trabalham nos Estados Unidos. O liberalismo trazia as “flappers”, em bom português, melindrosas. Elas que agora já faziam compras sozinhas, iam a cafés e clubes, também discutiam sobre direitos iguais. É nesta década que acontece o sufrágio feminino, ao se colocar na rua pelos próprios direitos, o primeiro de todos foi interferir na política, através do voto. No Brasil, Luíza Alzira Soriano Teixeira foi eleita a primeira prefeita na cidade de Lajes, em Rio Grande do Norte. Enquanto Hitler escreve Minha Luta, Coco Chanel lança o pretinho básico na Vogue. A silhueta da moda parisiense estreita os quadris e deixa as moças parecidas com rapazes. Uma imagem de igualdade. Sem o aperto do espartilho, as mulheres não apenas respiravam melhor, como começavam a mostrar o colo e usar maquiagem.

A base da pele era branca, para exaltar o preto dos olhos. Nossa maquiagem de festa com os olhos esfumaçados vem daí. O formato de contorno era mais arredondado, bem como a sobrancelha, muitas vezes totalmente tirada e refeita com lápis. Os lábios acompanhavam a tonalidade escura, com vermelhos carmins e formato de coração. Cabelos curtos, à la garçonne, ficavam lisos e juntos à cabeça. Já os à marcel, ganhavam ondas com grampos ou ferro, trazendo uma sensualidade que hoje é transportada para os cabelos longos como os de Gisele Bündchen. Com os cabelos modelados por Ricardo Castilho e o rosto redesenhado pela maquiadora Beti Lutke, do salão Expert Beauty Center, viajei através das fotos de Vanessa Leal para os anos 20. Loucura? Não, moda.

O Cabelo

Ricardo é tímido, mas de sorriso fácil. Não gosta de ser fotografado e trabalha cuidando da auto estima das pessoas através de seus cabelos. Há quase uma década no ofício, chegou aos salões de beleza por acaso, como assistente em uma época de verão quando a faculdade não deu tão certo. Com seu amplo conhecimento histórico me guiou pelas décadas através do penteado. “É muito importante saber o que estava acontecendo na época e ter referências, isso que contextualiza”, disse para mim enquanto conversávamos.  E como faz esse cabelo? Bem, é um trabalho minucioso. Primeiro Ricardo modelou com a ajuda de grampos as formas que queria dar aos meus cachos, depois além de muito spray deixou secando por um longo período. O mais bacana é pensar que nos anos 20 as mulheres faziam esse processo sozinhas, com a ajuda de bastões de aço esquentados no fogo, que nos lembra os babyliss de hoje.

A Maquiagem

Beti é de uma família de maquiadoras, sua tia, Dulce, coordena a equipe dos Salões Expert, e junto a ela ainda estão uma irmã e uma prima. É pouco ou quer mais?! Com um olhar detalhista, Beti deu o formato arredondado da sombra que caracterizava a época, lembrando de sua extensão às maquiagens de hoje, que também usam o esfumaçado preto. Além de fazer o trabalho de luz e sombra, exaltando certos pontos o que evita a aparência em blocos das cores e dá maior suavidade.  Os lábios foram uma mistura de tons avermelhados, com contorno bem demarcado, principalmente no centro, que dá a ideia de coração que as melindrosas desenhavam.

Ricardo e Beti comigo, que já não era mais eu, mas uma melindrosa construída.

Fotografia

As fotos são de Vanessa Leal, uma fotógrafa incrível, sensível e feminista (o que importa e muito) que tive o prazer de conhecer nas andanças da vida. Ela ainda aparecerá muito por aqui, pois estamos cheias de projetos conjuntos!

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