Olhe ao redor. Quantas diferentes cores você vê? O alaranjado sobre o qual esta coluna está intitulada. O vermelho das flores no cabelo. O tom da sua camisa. Cromóforo é o conjunto de átomos que ao receber uma corrente de luz visível tem uma excitação de elétrons emitindo fótons de uma pigmentação específica. Sendo mais prosaica, cromóforo é a molécula que dá cor.
“Tudo tu no espaço pleno de sons – na sombra e na luz. Tu te chamarás AUTOCROMO o que capta a cor. Eu CROMÓFORO – a que dá a cor. Tu és todas as combinações dos números, a vida”
O trecho é de uma carta escrita por Frida Kahlo para seu mentor, marido, amante e companheiro até o fim de seus dias: Diego Rivera. Frida nasceu em 1907 numa cidade no sul do México. No canto de La Casa Azul, moradia de seus pais, observava uma caixa de pinceis que ficava esquecida, sem saber bem para que lheserviria. Seu corpo não era dos mais fieis, por ter contraído poliomielite na infância carregava sequelas, mas bastava para as aventuras. Para voltar da escola vinha acompanhada de um namorado, a quem dedicou suas primeiras cartas de amor, os dois pegavam o bonde, porém um dia durante o trajeto foram surpreendidos por um trem. Na batida, um pára-choque perfurou as costas de Frida, atravessou sua pélvis e saiu pela vagina. Mais tarde, esse foi seu conto sobre perder a virgindade. Foi presa durante um ano em uma cama por conta do acidente que a mexicana deu liberdade à mente, para isso usou um espelho no teto e velha caixa de pinceis. Ganha pinceladas fortes nos registros que fazia de si mesma:
“Eu pinto autorretratos porque estou muitas vezes sozinha e porque eu sou a pessoa que eu conheço melhor”;
declarava Frida. E as cores não são tímidas. Descendente dos índios que construíram a cultura de seu pais, mantinha as roupas típicas e envolvimento com o movimento comunista, sonhava em alterar a politica do ambiente que estava inserida. Sua feminilidade transpunha certos padrões que são mantidos até hoje, bem como sua arte, que vai além do movimento surrealista, ao qual muitos a associaram. Seus olhos e sobrancelha intocada eram marcantes demais para que precisasse de qualquer outro artificio. Os lábios carregavam a matiz quente dos desejos. Seus casos com homens e mulheres foram inúmeros. No pescoço e orelhas carregava joias grandes e pesadas. O rubro da bandeira mexicana também cerca Frida em seus rebozos, um xale peculiar usado para carregar bebês, compras ou para se aquecer e enfeitar. Teve de reconstruir o próprio corpo e coração inúmeras vezes. Fossem pelas constantes cirurgias que procuravam acerta-lhe a coluna, no abandono de seu primeiro namorado quando ficou presa à cama, nos romances paralelos de seu marido Diego, nos abortos naturais do útero que não suportava carregar mais uma vida em si… Frida colocou cor em suas dores, as saias longas e rodadas que guardavam as cicatrizes da poliomielite, nas flores do cabelo que lhe levantavam o rosto sofrido, no vermelho dos lábios que a noite choravam as infidelidades. Frida foi o átomo que deu cor a vida.
Sobre o editorial
Colorido Mundo é a nossa nova produção audiovisual com carinho e afeto. Homenagear Frida Kahlo é uma vontade pessoal que vinha de tempos, finalmente temos a oportunidade. Com produção conjunta entre o Indumentária e Vagner Borges, estilista da marca curitibana P.Verso, fomos até o Bar 351, na Rua Trajano Reis para viajar ao México. O hairstylist Fernando Young, do Salão WCrystal, recriou o arranjo de flores no topo da cabeça, enquanto Cris Vanzela, do Studio Única, valorizou os lábios e redesenhou o rosto. Jeferson Sales, da Agência Vision, emprestou o ar latino que acompanha os países de língua românica. Vanessa Leal registrou em fotografia uma cultura centenária de cores. As imagens em movimento, que aparecerão na postagem completa do blog (disponível no Blog Indumentária dentro do Portal Bem Paraná) ficaram pelas câmeras de Rafael Schorr e edição de sua agência ao lado de Michele Farran e Mariana Marcondes, a SE7E. Ainda em tempo: Curitiba será a única capital brasileira a receber uma exposição sobre a Frida no dia dia 17 de julho no MON (Museu Oscar Niemeyer).
Este texto foi originalmente publicado na Coluna Indumentária, impressa todas as sextas feiras.
Assista ao teaser e confira as fotos na publicação. Se sentindo no México?
Confira a publicação:
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