Fotos de Camila Miranda
Quando adolescente, eu tinha cabelos longos e cacheados que estavam sempre presos. Eram piranhas, elásticos, ramonas (ainda chamam assim?) e o que mais houvesse para segurar aqueles fios desformes. Os acessórios depois foram substituídos por intermináveis horas de escova e chapinha.
Veio um início de rebeldia e cortei as mechas bem curtas. Ali, encontrei as curvaturas que hoje são meus cachos. Cachos esses que vivem soltos, bagunçados e nunca veem um pente.
A libertação veio do autoconhecimento. No falecido Orkut, milhares de meninas cacheadas trocavam dicas de como manter os cabelos hidratados, como modelar e cuidar. Comecei a lavar o cabelo com vinagre de maçã, umectar com azeite de oliva, hidratar com abacate.
Essas dicas de vó, cresceram em um movimento que hoje chamamos de NO/LOW POO, e procura diminuir os produtos químicos no cuidado com os cabelos, os tornando verdadeiramente saudáveis.
O NO/LOW POO
As técnicas do NO e do LOW POO foram divulgadas pela cabeleireira Lorraine Massey, em seu livro Curly Girl. Na publicação a cabelereira sugeria às cacheadas a utilização de pouco shampoo (Low Poo), ou a abolição por completo (No Poo).
Essas formas de lavagem, buscam a menor utilização de químicos como os Petrolatos (parafina líquida -óleo mineral – vaselina), Silicones e outros derivados que mascaram os fios, impedindo um tratamento completo e também retiram os minerais e proteção natural do cabelo.
“Os produtos tradicionais podem prejudicar muito. As limpezas profundas também tiram o que não devem, como as vitaminas e minerais”, explica Graziela Ribeiro.
A cabeleira
Grazi tinha fixação por cabelos desde pequena, o que via cabeleireiros fazendo tentava reproduzir nas amigas, família e na própria cabeça. Durante a faculdade chegou a trabalhar em um salão de beleza, mas deixou as escovas de lado seguindo a carreira em Relações Públicas.
“Dizem que os 28 anos tudo muda, e eu comecei a questionar muita coisa. Meu sonho sempre foi ter meu negócio e sempre pensei em salão”, me conta enquanto me acomodo da cadeira de seu atelier todo vintage.
Uma amiga decidiu se mudar para a Irlanda e Grazi foi junto de bagagem: “Lá eu precisava trabalhar com alguma coisa, e decidi que eu iria trabalhar em algum salão, porque queria estar nesse ambiente”.
Começou como treinee em um grande salão de beleza, tendo aulas duas vezes por semana. Completou o aprendizado com cursos em Dublin, e de volta ao Brasil trabalhou salões daqui. A vontade de ser a própria chefe continuou, o que fez surgir seu atelier caseiro, que nos faz sentir aconchegadas.
“Eu atendo cerca de quatro pessoas por dia, para manter de uma forma bem especializada. Gosto de explorar tudo, os produtos que tem em casa, a rotina do dia a dia.”
No mercado da beleza, que tanto padroniza, Grazi busca o resgate da beleza natural nos fios. “Atendo muitas cacheadas e pessoas que querem sair da progressiva, e sempre recomendo o LOW e NO POO”.
Enquanto ela mexe nos meus cachos, os colocando para todos os lados, me conta que também passou por uma transição capilar: “Fiz progressiva durante anos. Mas quando fui pra Dublin não tinha secador, e precisava deixa-lo natural. Um amigo começou a me ensinar a modelar os fios e eu consegui assumir os cachos”.
Fim da progressiva
“A parte de baixo do seu cabelo é mais lisa, então sugiro que ela fique mais curta para que o resto dos fios abracem”, completa analisando o espelho a nossa frente.
As transições acontecem de várias formas, a mais comum é quem faz progressiva e não conhece o próprio cabelo. Grazi pega a tesoura e começa a cortar meu cabelo ainda seco: “A progressiva altera completamente o formato do cabelo. O primeiro passo é melhorar o corte e tirar o máximo que der da progressiva”.
Me lembro de quantas vezes escutei mulheres falando que seus cabelos não tinham formato definido, que só a chapinha resolvia, não tinha jeito… Já ouviu algo assim? Ou melhor, já disse?
“Acho que o que mais falta nos salões é o respeito a textura natural dos fios” – Graziela Ribeiro
O corte dos cabelos é sempre feito a seco, mesmo os lisos, para ver a textura, camadas e caimento: “O corte precisa ser feito junto, o cabelo é do outro. Se ela não souber o que ela quer, o meu papel é ajudar a descobrir. Com o corte seco posso ir mudando na hora, conversando com a cliente para ela chegar no que ela gosta”.
Cronograma
Depois do corte, vem a lavagem, e então últimos acertos de proporções. Enquanto finalizamos meu cabelo, lembramos do cronograma: “Eu uso a palavra cronograma para que ela que entenda que precisa haver uma regularidade, mas cada uma vai criar o seu”.
A rotina é hidratar, umectar com óleo e de usar queratina liquida. Não necessariamente em uma ordem, cada cabelo tem suas necessidades. Contudo, manter os fios em dia é o que garante sua beleza e balanço.
“O cabelo é orgânico, não é uma ciência exata”, me diz. Essa uniformização que nos limita, também nos leva a desconsiderar nossa própria subjetividade. “A baixa autoestima é plantada para vender a solução”, concordo, Grazi. Concordo.
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