Desejo. O anseio por algo que não lhe pertence. Bela, na dádiva da inocência, desejava uma rosa. Mal sabia seu significado. Afinal, quando sabemos nossos verdadeiros desejos? Movida pela curiosidade, ou impulsos mais submersos, alcança o objeto saciando sua avidez. Ao ter em mãos a menor parte de todo um universo também se confronta com seu possuidor, a Fera. Em seu primeiro contato com o oposto reage em surpresa, susto, receio.
Difícil é olhar para o diferente, ainda mais quando este faz parte de si mesmo.
Ao temer a Fera, Bela teme a si mesma. Entrar em contato com sua própria libido é descobrir quem realmente é, permitir-se ser independente do seu redor. Ainda assim, Bela que deseja o novo, segura nas mãos parte do que lhe parece distante: uma rosa. A flor de formato circular é total por si só, do encontro de diversas pétalas se forma em uma figura única. Do vermelho de Afrodite, a deusa do amor, e banhado no escarlate da luxúria se faz a Fera e sua morada. As rosas que adornam o ambiente atraem aquela que ainda não está completa. Fera aguarda pelo encontro em sua reclusão de vontades, enquanto Bela atravessa a passagem do seu plano atual para o desconhecido.
O desconhecido é seu interior. A passagem pelo portal do inexplorado permite à Bela encontrar seu âmago recluso. A Fera é Bela. É seu Animus. O interior onde se guardam seus desejos, sua outra parte, seu complemento. Não existe um papel de homem ou mulher. Assim como não existe uma Bela e uma Fera. Os dois são partes complementares que formam cada ser, exteriorizados de variadas formas. No encontro consigo mesma é coroada pela totalidade. Se torna absoluta. Feita de rosas. Completa de si.
Sobre a Produção
Viajando pelo universo literário dos irmãos Grimm, estudamos os arquétipos de Jung através de imagens relendo A Bela e a Fera. Em uma concepção coletiva do Blog Indumentária e equipe surge Animus, um editorial que explora o feminino e a posse sobre si. Vindo das mentes produtivas do Atelier Kubis, composto por Felipe Pereira e Christiano Kubis, o registro foi feito pelas lentes de José Renato Andrade e Isabella Mariana. A vivência nas fotos é de Bernardo Branco e Hellen Albuquerque, que ganharam personalidade nas mãos de Rafaela Camilo, responsável pela beleza. O cenário que perpetua rosas, ganhou as mãos delicadas de Renan Souza e Bárbara Rocha, na construção do Labores localizado no Bairro São Francisco. A indumentária das imagens fica por conta dos produtores locais: Karina Kulig, Roberto Arad e Francesca Córdova, que ainda se complementa às peças da Maison Status Quo.
Veja a publicação fotográfica completa:
Também publicado na Coluna Indumentária, impressa todas as sextas feiras.
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