Talvez você já tenha ouvido falar sobre o Teste de Bechdel, talvez não. Ele é uma forma de avaliar o preconceito de gênero presente em filmes e outras mídias. Para passar no teste, a obra precisa ter pelo menos duas mulheres, com nomes, que conversem entre si sobre outras coisas que não sejam homens.
O teste recebeu esse nome em homenagem à cartunista Alison Bechdel, que apresentou a ideia em seu quadrinho “Dykes to Watch Out For”. A autora atribuiu o conceito à sua amiga, Liz Wallace, e você pode ver o original aqui:
Parece realmente simples, afinal, as mulheres poderiam conversar sobre absolutamente qualquer coisa, menos homens, e o filme passaria no teste. Pode ser sobre negócios, física quântica, comida ou cachorros, não importa. Mesmo assim, um monte de filmes falham miseravelmente nesse aspecto. Ou, ainda, passam no teste graças a uma única cena em todo o longa, o que não quer dizer que haja realmente uma igualdade de gênero.
Lógico que o teste não é 100% preciso para definir se um filme é feminista, ou se retrata as mulher de uma maneira mais verossímil ou poderosa. Por exemplo, “Jurassic World” passa no teste graças a uma conversa de Claire e Karen ao telefone, em que falam sobre sua mãe e a carreira de Claire. Mas o filme foi criticado por estereótipos sexistas, principalmente pelo figurino de Claire, fugindo de dinossauros de salto alto. Já “Gravidade”, que traz Sandra Bullock num importante papel de uma astronauta, não passa no teste, pois ela não conversa com outras mulheres, apenas com homens.
Jurassic World passa no Teste de Bechdel, mas…
Ou seja, o Teste de Bechdel é um bom ponto de partida para discutirmos questões sobre igualdade de gênero no cinema, mas precisamos ser críticos sobre o que estamos assistindo, e sobre a realidade da indústria cinematográfica. Afinal, as atrizes, por mais incríveis que sejam, ainda recebem muito menos do que os atores.
Só para ilustrar, recentemente em um episódio de “Chelsea”, da Netflix, Hilary Swank contou sobre uma situação absurda. Pouco depois de ganhar seu segundo Oscar de Melhor Atriz, ela foi chamada para fazer um filme. “O ator não tinha nenhum sucesso de crítica, apenas havia aparecido em um filme em que estava gostoso. Ofereceram a ele 10 milhões, e para mim, 500 mil. Essa é a verdade”.
Como dá para esperarmos um tratamento igualitário na ficção, se na vida real ele não ocorre? Felizmente, a representatividade feminina vem melhorado nas produções cinematográficas, mas é preciso estar sempre de olho e questionar.
Ah, e claro, vou finalizar com uma pequena lista de filmes legais (na minha opinião) que passam no Teste de Bechdel: “Frances Ha”, “Persépolis”, “Cisne Negro”, “As Horas”, “Pequena Miss Sunshine”, “Kill Bill”, “A Vida Secreta das Abelhas”, “Azul é a Cor Mais Quente”, “A Viagem de Chihiro”, “Persona”.
Texto e edição da coluna: Andrea Mayumi
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