Festa, barzinho, assoprar de velas… Sempre que pensamos no nosso aniversário, estamos cercados de pessoas. Só que essa não é a única possível combinação. Este ano, meu novo ciclo foi na companhia de mim mesma. Queria Sol e calor. Queria mar. Queria crescer. Depois de um fim de relacionamento, quando tudo estava planejado a dois, era momento de começar o ciclo comigo de única acompanhante.
Embarquei para a Bahia, onde o Brasil também teve um de seus começos. De frente pro mar, me dei parabéns. Afinal, faço aniversário quase junto de Iemanjá. Nada melhor que honrar outra mulher de natureza forte.
Este ano, não fui a única a me presentear com uma viagem para mudar os anos.
Greyci com Greyci
Para sua primeira viagem sola, Greyci escolheu Santiago e Pucón, no Chile. Um país, uma comemoração do ano novo pessoal. Comprou passagem, fez um roteiro e planos. Em todos eles prevalecia a vontade de conhecer mais de si mesma.
Como todas as fases de transição, aniversário marcam inícios, essa perspectiva nos coloca de frente pro espelho. Faz pensar. Assusta. “Por ser um fim de ciclo, fico pensando no que fiz, não fiz, tudo que eu queria ter feito”, diz Greyci.
Para mudar seus olhares, queria passar a data de longe, para ver como se sentiria. Distância sempre dá mais perspectiva. O medo de ficar deprimida, num país e cidade diferentes, onde não conhece ninguém, a deixou com dúvidas. Dúvidas. Quantas temos?
Foi assim mesmo. Lá de longe, viu que é ela quem sempre está perto. “Acho que estou viciada em passar aniversários longe de casa!”, contou.
O dia em que Greyci completou 27 anos, e sua primeira neve
Aniversário Sola
Para marcar quando os planetas voltavam ao mesmo alinhamento do dia que nasci, tomei caipirinhas de frente ao oceano pacífico. Do meu lado, dois meninos tocavam blues. Comigo, apenas eu mesma. Nunca me senti tão completa.
A história e sensação se repetiram com essa outra viajante.
“A carga de fazer aniversário não existia lá”, longe de casa, em outro idioma, Greicy se preocupava apenas com o próximo plano no novo país. Entre um desses, se encontrou do lado oposto de seu destino.
“Entender o transporte em outro país nem sempre é fácil. O ônibus que escolhi me deixou em uma ponta de Valparaíso, quando eu queria ir a outra, onde fica uma das casas de Pablo Neruda”. Sem problemas, pensou. Em seu próprio ritmo foi atravessando a cidade. Pegou outro ônibus, andou, parou para almoçar.
Pediu informação, buscou um lugar com suco quando teve sede, andou.
“Eu não tinha noção do quão longe era!”.
Andou.
Acontece que, atravessando a cidade, cada canto era uma descoberta. “Várias casinhas coloridas, grafite, artesanato, tudo que eu mais amo! Toda parada era incrível, com cores e aromas diferentes”. Quando já estava mais próxima, encontrou um parque municipal.
Parou os pés cansados, ficou tomando Sol, e mesmo com a temperatura baixa, sentia o calor da caminhada. Levantou e seguiu.
“Andei muito! Quando cheguei, chorei de emoção”.
Ali, finalmente em seu destino, lhe voltou à cabeça todas as vezes que dela haviam duvidado. Todas as vezes que duvidou dela mesma. A fala que mais martelava era de um ex-namorado: “não sei como você iria se virar sozinha, sem mim.”
Pois ela agora sabia.
“Agora eu sabia o quanto posso conseguir todas as coisas que quero”.
Em Viña Del Mar para ver o Sol
A Comemoração
Passei o dia primeiro de fevereiro andando de praia em praia. Como uma boa aquariana, coloquei o pé no mundo para descobertas. À noite, fui recebida pelo casal de italianos que me hospedavam com um jantar típico, muito vinho e sorrisos.
Me senti mais em casa que com minha própria família.
Das coisas que percebi viajando sola, uma das mais intensas é essa coisa da companhia. Além de sempre me ter presente, é só abrir espaço para encontrar o outro. Seja uma espera conjunta por um ônibus, dividir um almoço no mesmo restaurante ou uma cerveja em qualquer bar. O mundo todo está ali, só esperando por você.
“Não importa se eu nunca mais ver as pessoas com quem eu passei meu aniversário”, fala Greyci, “aquele momento com eles, comendo pizza e bebendo cerveja, foi especial suficiente”.
Greyci comemorando seu aniversário com pizzas caseiras, cerveja e os amigos que conheceu naquele mesmo dia
Truques de viajante
No dia do seu aniversário – ou em qualquer outro momento que você queira ficar só com você – aproveite as dicas da Greyci para aproveitar a viagem.
. Se programar: estar sozinha num país estranho sem contatos nesse local, sugiro muita programação. Tanto do que fazer, quanto financeiramente. Se algo acontecer, tenha um seguro fácil.
.Saber como ir de um lugar a outro.
. Usar transporte privado à noite.
.Ficar em hostel te abre oportunidades para conhecer pessoas do mundo todo. Mas é importante pesquisar bastante, ir a lugares mais conhecidos e com fotos atualizadas.
.Pesquise! Não apenas sobre os pontos turísticos, mas lugares para almoçar, tomar um café… Assim você aproveita todos os momentos e tem mais experiências. Busque combinar pontos próximos no seu roteiro.
. Fica atenta para onde terá wifi, assim você usa para se localizar e ver os próximos planos.
Viajar é mais do que a visão de pontos turísticos, é a mudança que acontece, profunda e permanentemente, no conceito sobre o que é a vida. _Miriam Beard
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