Música para caminhar – seja dia ou noite.
Trajano Reis que hoje é rua, também já foi médico além de político.
O que pouco nos lembramos ao andar – ou correr quando se está atrasado – é das histórias que guardam o chão por onde passam nossos pés. Um dos meus costumes mais perigosos é andar olhando para os lados. Não da forma como quando atravessamos a rua, mas procurando nas paredes, nos prédios e ruelas um indício dos que estavam ali antes de mim. O que já me rendeu esbarrões, tropeços e quase atropelamentos – se você for mais perceptivo que eu, recomendo!
Se conectar com a cidade em que se vive pode ser uma das tarefas mais compensadoras e fáceis, basta um pouco de tempo e olhar para os lados.
A Rua Trajano Reis, no bairro São Francisco, hoje se mantém como uma quadra da Rua Augusta perdida de São Paulo. Os bares mais alternativos reúnem todo tipo de jovem usando xadrez, couro e cintura alta – inclusive eu. Não se escuta clap clap de salto alto, mas covers de indie rock, Novos Baianos e ainda se toma um bom café, acompanhado de hambúrguer ou pizza sentado no meio fio. Os aromas de cigarro, álcool e amores perdidos se misturam freneticamente ao passar das horas. É a noite que a rua ganha vida, embora durante o dia tenha uma boa vista para apreciar.
Para tanto, uma mapa especial com meus pontos prediletos – o trajeto para ser trajado de trajano exige como transporte os seus pés.
Antes de se chamar Trajano, aquele pedaço de Curitiba nomeava-se América. Ganhou nome e sobrenome em homenagem ao doutor baiano Trajano Joaquim dos Reis que trocou acarajé por frio ao vir morar aqui. Dono de um bigode exemplar, como era a tendência dos anos 1870, conta-se que seu gosto distinto o destacava na região. Os trajes uniam casaca e cartola, que chamavam atenção quando montava seu cavalo para atender os pacientes, que quando não podiam, não o pagavam. Cortesia da casa. Se envolveu na política tendo uma carreira de sucesso – só assim você pode virar rua. Emprestou seu nome para algumas quadras do bairro histórico, mesmo que poucos saibam sua história.
Observando a região e quem anda por ali, dá para imaginar o senhor de cartola cavalgando… ou não? Vou olhar do outro lado.
Fotos: Renan Souza
Dois registros do senhor Trajano.
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