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Foto do escritorHellen Albuquerque

tendência | de Anitta a Frida Kahlo, estilo latino deixa o mundo caliente

Na tequila do fim de semana ou no DES PA CI TO tocando no rádio, nossos corpos já aprenderam a requebrar para além do espanhol. O estilo latino é uma tendência que já tem seus dois anos e não para de ascender. A América Latina parece finalmente ganhar espaço entre as potências mundiais – ao menos quando se fala de cultura pop. 

As dinâmicas culturais estão em constante transformação, e a nova onda que chega é da Latinidade. “Um movimento latino está ressurgindo, tanto em contexto musical quando na moda; que são os grandes canalizadores e distribuidores das tendências”, afirma Drica de Lara, que é especialista em tendências e diretora da NEON.

O ESTILO LATINO NA MODA

Pra pensar em moda latina, é preciso falar de Frida Kahlo. A pintora mexicana teve seu rosto quase tantas vezes reproduzido quanto Che Guevara. De canecas a tatuagens, Frida se tornou um símbolo para além de suas obras.

A figura marcante e colorida, foi inspiração para diversas grifes como John Galliano, Dolce & Gabbana, Kenzo ou McQueen. Podemos ousar dizer, que talvez ela tenha sido a primeira latina a quebrar a barreira da moda eurocêntrica, trazendo atenção ao lado de cá dos setes mares.

No documentário “The Future of Fashion”, criado pela Vogue britânica, Alexa Chung vai até os escritórios da WGSN, maior pesquisadora de tendências do mundo. Lá, todos apontam para Cuba como próximo cenário de influências.

“As ondas que iniciam uma tendência tem alguns pontos de ativação e um ponto de impacto que gerou um dos  pulsos de propagação foi o desfile de alta costura da Chanel”, explica Drica.

O desfile da maison em Cuba, intitulado “The Cruise”, foi o primeiro da grife na América Latina. Chanel fez de passarela o Paseo del Prado em Havana. A coleção também tomava as características calientes como tema,  com cores fortes e tropicalismos.


No Brasil não foi diferente. O tema para o Dragão Fashion Brasil, maior semana de moda autoral do país, destacou a Colômbia. País com consolidada indústria têxtil e de grande relevância para a economia mundial de moda.

A indústria fast fashion captou as inclinações na agilidade de sempre. Podemos ver os babados em golas e mangas por todos os lados. Os vestidinhos de cigana, que tem os decotes de ombro a ombro, são uma inspiração forte. Saias fluídas e volumes. Ainda vemos estampas mexicanas ou peruanas nas araras. Cores quentes, acessórios floridos e muitos bordados. 

O ESTILO LATINO NA MÚSICA

O intercâmbio também acontece entre os nossos. Artistas nacionais flertam com o reggaeton, trazendo novas batidas às músicas de massa.

O melhor exemplo é a funkeira Anitta, que já tem três hits nesse estilo: Ginza (com J. Balvin), Sim ou não ( com Maluma), e a última em conjunto com outra sensação, a dupla”Simone & Simaria, cantando Loka, trilha sonora do verão 2017. 

Todas com acessos gloriosos pelo youtube, a mais tocada Sim ou não, com Maluma, acumula 151 milhões de visualizações. 

Mesmo com as políticas migratórias de Donald Trump subindo muros – ou talvez, exatamente por elas – nossos brothers do norte também tem rebolado em passos hispânicos. O canadense Justin Bieber propagou sua versão de Despacito pelos Estados Unidos, transformando a música do porto-riquenho Luis Fonsi em #1 na Billboard Latin Songs e #48 na Billboard Hot 100. Algumas cidades dos EUA, como Los Angeles e Miami, tem a maioria de sua população latina.

DO INGLÊS PRO ESPANHOL

Há alguns anos, Shakira, Jennifer Lopez e Ricky Martin traduziam suas músicas para o inglês buscando seu espaço. Ainda que as composições e álbuns fossem em espanhol, apenas suas versões em inglês que se tornavam hits.

Algo se transformou em  2014,  quando Enrique Iglesias disparou Bailando para todos os cantos. Sua versão em espanhol foi a mais aclamada, alcançou 2 bilhões de visualizações enquanto a em inglês apenas 200 milhões. Uma previsão dos novos rumos por vir.

Shakira, rainha do rebolado, lançou seu último CD, “El Dorado”, quase completamente em espanhol.

“Nessa mesma onda aparece a Pablo Vittar. Drag Queen que em seis meses de carreira ganhou todos os holofotes e espaço nacional e internacionalmente. Presença confirmada no Criança Esperança, é hoje a Drag mais vista no Youtube com seu clipe “K.O”. A drag mais seguida no Instagram no MUNDO, ultrapassando Rupaul”, complementa Drica. 

Mais um exemplo vem da Rainha dos Memes brasileiros, Gretchen. Ela acaba de protagonizar o clipe legendado do single  “Swich Swich” de Katy Perry, validando e atestando essa onda latina. E não vamos esquecer do novo clipe do momento, estreando as duas grandes rainhas brasileiras de audiência musical: Anitta e Pablo Vittar juntas, em uma produção do trio norte americano de música eletrônica Major Lazer



APROPRIAÇÃO CULTURAL? 

Em uma leitura de Chimamanda Adichie, podemos questionar essas novas vozes como a oportunidade de se contar uma outra história do povo latino. A autora atenta ao perigo de “uma única história”, que reproduz esteriótipos e perpetua clichês. Algo muito questionado em papéis cinematográficos que retratam as mulheres latinas sempre como ultra sensuais e escandalosas. Abrir espaço para que as próprias figuras possam falar sobre si mesmas, pode ser um novo caminho. 

Por outro lado, o antropólogo argentino Néstor Garcia Canclini pensa que a apropriação da cultura hegemônica, nos modos próprios de acordo com cada contexto latino-americano, pode ser considerada uma forma de resistência e sobrevivência cultural.  “Ainda que ele seja também atento para a permanência das relações de poder em curso”, explica Lea Tosold, doutoranda em Ciência Política. 

“Os próximos passos já podemos imaginar, produtos, filmes, personalidades irão cada vez mais aparecer e tomar posições e locais; até a latinidade se tornar mainstream”, finaliza Drica.

Lea me deixou um escrito de Eduardo Galeano, sobre a FRIDAmania, que coloco abaixo:

Julio 7En 1954, una manifestación comunista camino las calles de la ciudad de México. Frida Kahlo iba ahí, en silla de ruedas. Fue la última vez que la vieron viva. Murió sin ruido, poco después. Y unos cuantos años pasaron hasta que la fridamanía, tremendo alboroto, la despertó. ¿Resurrección o negocio? ¿Se merecía esto una artista ajena al exitismo y al lindismo, autora de despiadados autorretratos que la mostraban cejijunta y bigotuda, acribillada de agujas y alfileres, acuchillada por treinta y dos operaciones? ¿Y si todo esto fuera mucho más que una manipulación mercantil? ¿Un homenaje del tiempo, que celebra a una mujer capaz de convertir su dolor en color?Eduardo Galeano – Los hijos de los días.

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