O futuro é feminino. Sabemos.
A terceira onda do feminismo nos deu blogs, memes e voz – mesmo que em caracteres. Junto dessa movimentação digital, diversas esferas sentem os efeitos de uma revolução das comunicações, que também inicia conversas políticas e sociais.
Foi assim que Betsy Greer pensou com suas agulhas em como começar um protesto silencioso e que ainda assim fizesse barulho. O craftativism foi cunhado em 2003 por ela, que usa bordados como ferramenta para abrir diálogos. O conceito é simples: criações que tragam intrinsecamente algo a ser discutido.
Drica de Lara, especialista em tendências, foi quem me atentou para essa nova forma de criar mudanças. “Por coincidência ou por zeitgeist o Craftivismo está aparecendo repetidamente nos meus estudos e mapas de análise”, diz.
“Lendo uma matéria da Camila Yahn com a incrível estilista Maria Kazakova, da marca Jahnkoy; ele apareceu novamente como um estalo de frescor em pleno 2017; na resposta da estilista quando questionada se era ativista prontamente respondeu ‘craftivista’. A palavra fez-se plena, global, com sentido amplo e se configurou automaticamente como uma tendência; por tudo que aquela jovem estilista acredita e atua na moda!”, completou.
O craftivism é um ativismo em formato de produção manual. Essa filosofia pode revigor nichos como da moda. “É um resgate de atitude e formato de trabalho, de como você escolhe viver e correlacionar sua arte”, explica Drica.
Como surgiu o craftativism
Sem se identificar com os ativismos de rua, Betsy um dia se questionou como poderia trazer significado ao que ela sabia fazer: tricotar. A epifania que teve se tornou um livro, Craftivism: The Art of Craft and Activism, e então um movimento.
Betsy tricotava, durante os intervalos de seus trabalhos temporários, tocas para um abrigo de crianças. No desenrolar das lãs desenvolveu três pilares para o movimento: doação, criar e dar para quem precisa; embelezamento, ao deixar um lugar antes esquecido novo ao convívio; e notificação, ao chamar atenção a causas que merecem pauta.
O importante é fazer algo com as próprias mãos, um incentivo ao do it yourself, por exemplo, que tenha significados – bem daquele jeito “vamos mudar o mundo, um ponto por vez”. Trazendo luz também a era pós industrial.
Algumas iniciativas craftativistas
A artista russa Maria Kazakova, da Jahnkoy, é a própria manifestação da inovação e movimento. Em suas criações ela aborda temas como a transversalidade cultural e consciência de consumo, além de ter como matérias primas refugo de tecidos e peças de segunda mão.
Uma de suas citações na entrevista ao FFW resume o conceito: “As roupas que faço criam oportunidades para nós nos juntarmos. Foi isso o que eu encontrei no design de moda. Por exemplo, eu amo desenhar e pintar. Mas se simplesmente faço uma pintura que vai pra parede, ela não une as pessoas. Pra mim, a moda é o canal para juntar as pessoas, um tipo de criatividade que diz: eu posso criar, reunir 50 pessoas em um dia. Pra mim, o momento antes do show é o mais mágico porque nós passamos o dia juntos e nos divertimos, celebramos, dançamos, comemos. Isso é o que eu quero dizer com comunidade.”
Um atelier de design que cria bonecas de pano artesanalmente, usando matéria prima nacional. Para cada produto vendido, outro é doado a uma criança em vulnerabilidade social, a ideia é criar ações de terapia vivencial pela produção manual, ressignificando histórias e recuperando a auto estima.
Objetos de decoração, camisetas, almofadas… A marca criada pela Cintia traz produtos com estampa em braille. Parte das vendas é destinada a projetos que permitam o empoderamento e autonomia de pessoas com deficiência visual.
A iniciativa busca trazer um novo olhar sobre o que já temos, através de oficinas de costura, customização e doações, o Roupa Livre faz eventos online e offline para trazer mais consciência à moda. Além disso, são os criadores do tinder das roupas, o Roupa Livre App, pelo qual você pode trocar suas peças com quem quiser.
O curso de bordado empoderado foi criado com o objetivo de ensinar essa arte em um formato novo, feminista e atual. No curso de Bordado Empoderado são ensinados o ponto cruz e técnicas de bordado livre com frases e símbolos de empoderamento.
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