Na rua da minha casa tem uma confeitaria onde tomo meu cappuccino ocasional, junto de um bolo de cenoura com cobertura de chocolate – meu preferido. Na quadra da frente, a Dona Denise costura meus vestidos e saias inventados, além de ajustar meus garimpos. No meu bairro tem feira de orgânicos. Tem mercadinho local. Tem manicure.
Uma porção de pessoas que atendem na porta de casa. Para depois deixar os filhos na creche – que é aqui pertinho.
Quando compro os produtos ou serviços dos meus vizinhos, crio um novo ciclo de economia. Me descoloco da hegemonia de grandes corporações para impulsionar pequenos negócios, que vão de acordo com os meus ideais.
Ao comprar uma camiseta de uma marca da minha cidade, como a P.Verso, sei que o Vagner – estilista e querido amigo – que criou aquela estampa. Imaginou, desenhou, contratou uma costureira, ou costurou ele mesmo a peça que vai pra minha arara.
Ali está uma criação independente. Com fair trading. Com exclusividade. Com sonhos.
Estamos transcendendo a ideia de comprar apenas pela fama da marca – tem coisa mais brega que ostentar etiqueta? Comprar por estar no shopping. Por ser tão baratinho. O conceito do slow movement, sobre o qual já falamos, traz a ideia da qualidade das nossas experiências invés da quantidade. E é claro que isso vai do seu almoço de domingo à jaqueta pro inverno.
Buy less. Choose Well. Make it last -Vivienne Westwood
Assim criamos uma nova comunidade. Escolhemos nossos comuns de acordo com a identidade de consumo que construímos. Bauman (2005) nos analisa em toda nossa fluidez, dizendo que nossas identidades se alteram de acordo com as experiências que vivemos.
Em um sistema capital, movido pelo comércio, como é o em que vivemos, cada um de nossos hábitos de consumo constrói um pouco de quem somos. Através de nossas aquisições criamos redes de troca, com cada produto vem também os processos que o tornaram possível.
O movimento Compro de Quem Faz elabora tal conceito ao nos convidar a este estilo de vida. Na moda e design, feiras independentes e lojas colaborativas unem artesãos e criadores em espaços que os apresentam ao público como uma alternativa ao risco de apoiar uma marca sustentada pelo trabalho escravo. Ali, é tudo feito a mãos bem cuidadas.
Nossas comunidades ganharam as nuvens online há muito tempo. Pela internet podemos encontrar grupos que se unem para apresentar seus serviços como o “Clube da Alice” e o “Compro de Quem faz – das minas”. Os agitadores culturais em cada cidade procuram valorizar os artistas locais e criar em conjunto novos projetos, em Curitiba, um exemplo é o coletivo “Das Nuvens”, que como espaço colaborativo apresenta diversas iniciativas feitas por curitibanos.
Você é o que você come, sabemos.
Só não se esqueça que você também é o que veste, o que decora, o que constrói…
Se olharmos suas últimas compras, quem você é?
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